domingo, 29 de agosto de 2010

O PERDÃO


O que exatamente é perdoar? Deve haver mais de uma forma de definir. Vejo o “perdoar” como entender as limitações de caráter (morais, éticas), ou imposições circunstanciais que levam alguém a nos praticar um dano. E através da compreensão, superar a revolta pelo mal que nos foi praticado, nos libertando da tortura da injustiça. Perdoar não é fácil. Falo porque é algo que chegou a ser extremamente difícil para mim também. Qualquer pessoa com sangue nas veias sente-se irresistivelmente coagida à revolta quando brindada com a injúria. E este sentimento de revolta, de ultraje, pode nos acompanhar por anos, décadas, fervendo no espírito do homem e destilando-se em um trago cada dia mais amargo de engolir. O perdão é importante porque nem sempre é a retribuição é possível, ou desejável. Dependendo da estatura daquele que nos ofendeu, chega a ser indigno se rebaixar ao seu nível, e sujar as mãos – e a alma – com a vingança. É mexer em fuligem: ela sempre emporcalha aquele que a manusear, não importa os cuidados que tome. Ao buscarmos compreender as limitações de caráter de quem nos feriu, ou as circunstancias que os levaram a tal, não raro nos surpreendemos de perceber que aquela pessoa, em realidade, e justamente por causa destas limitações ou circunstancias, trata-se de alguém já miserável o suficiente: seja seu caráter mesquinho e torpe, seja sua miséria pessoal, já lhe infligem tanto sofrimento, que haveria pouco que poderíamos ou desejaríamos fazer para aumentar tanta desgraça. Mas não é só para este tipo de pessoa para com quem o perdão é libertador. Às vezes, seremos feridos também por pessoas que nos amam, ou a quem amamos. As pessoas cometem erros, afinal. Erros que gostariam de não ter cometido às vezes, e que infelizmente nada mais podem fazer para reparar. O perdão é uma escolha particularmente feliz nestes casos: ele advém do próprio ato de amar. Mas antes que entremos num nirvana em um mosaico psicodélico sobrepondo a realidade, vamos botar os pés no chão: o perdão é sim uma excelente opção para apaziguar a alma. Sim, é por você mesmo que você fará isso, em primeiro lugar, caso seja sua opção.

Mas não: não é uma carta branca para as pessoas pisarem em você!

Perdoar não significa permitir que alguém prossiga, continuamente, tendo más ações para com você. Enquanto que é bom para o coração o perdoar, você pode e deve tirar daquele que te fere a chance de te ferir de novamente. Como? Isso a situação vai responder. Em algumas situações, por exemplo, isso significa, uma vez que você compreendeu o tormento que é ter um mau caráter, e perdoou isolar a pessoa e sair de sua esfera de influência. Quando estiver com o espírito livre do rancor, poderá até mesmo dar uma lição na pessoa. Mas poderá fazer isso de forma serena, em paz consigo mesmo, e seguir adiante, pacificado.

Lembre-se que tem uma coisa mais importante do que devolver as ofensas: é viver bem, e ser capaz de curar a si mesmo, e seguir adiante mais inteiro. Não, não é fácil de praticar. Mas tem sido para mim uma das descobertas mais gratificantes.

Autoria de Janeth Sá

*Agosto 2010

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